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  • Foto do escritorMarcio Cruz

Um 2022 Com Mais Consciência

Acreditar que a única realidade existente é aquela captada pelos nossos cinco sentidos, interpretada e comunicada através da linguagem é uma das conclusões mais estúpidas que nós podemos estabelecer. E por ser uma visão de mundo amplamente aceita, muito raramente paramos para pensar o quanto que essa crença é castradora, aceitando-a muito facilmente pela arrogância abissal de nosso ego, por puro contágio cultural ou por ambas as instâncias.

Separando o Eu Natural do Eu Adaptado, ou seja, entendendo que havia um experimentador antes da formação do ego construído paulatinamente em contato com o ambiente circundante, passamos a pensar e aprender através da linguagem, estando esta última circunscrita aos cinco sentidos que privilegiaram a nossa sobrevivência no ecossistema terrestre. Por questões de economia de energia, a ciência cognitiva em conjunto com a teoria dos jogos demonstra que seria contraproducente o cérebro processar todos os dados disponíveis no ambiente, afogando-nos em um enorme oceano de informações que não seriam fundamentais para a nossa sobrevivência imediata, levando-nos a perder o nosso foco e a provocar a nossa extinção (não seria isso, de uma certa forma, justamente o que vivenciamos hoje com o uso excessivo de nossos smartphones conectados às redes sociais?). E com a evolução de nossa espécie, fomos condicionados a pensar através da linguagem criada para lidar com os desafios cotidianos, formando uma narrativa sobre nós mesmos e sobre o mundo em que vivemos tendo apenas como referência esses filtros que maximizam a sobrevivência, mas restringem a realidade. Eventos que transcendem os nossos sentidos e a linguagem voltada para o ambiente exterior ocorrem o tempo todo, impactando diretamente a nossa vida como o amor, por exemplo. Pois é, o tão famigerado amor. Desconsiderando aqui todas as confusões e misturas que fazemos com paixões e outras emoções diversas, este fenômeno tem impulsionado desde sempre a nossa civilização e chega a ser paradoxal o quanto que ignoramos o fato de ele se encontrar além de nossos cinco sentidos. Ele pode ser engatilhado pelo olhar, ser reforçado por aromas e toques, mas pense neste sentimento quando a pessoa ou a coisa amada não se encontram por perto. Como descrever com precisão o sentimento isoladamente do objeto amado? Difícil, não?

Thomas Campbell possui uma definição de amor que eu aceitei como a mais próxima da realidade. Para ele, o amor é a maximização da qualidade de relacionamento entre os seres vivos. Mesmo assim, a descrição do fenômeno isoladamente, sem as suas propriedades relacionais continua sendo uma incógnita. E esta dificuldade em defini-lo advém justamente da transcendência desse sentimento.

E a coisa pode piorar muito mais quando consideramos que, mesmo dentro do espectro dos cinco sentidos, afunilados pela narrativa de nosso ego através da linguagem, nós ainda somos diretamente influenciados pelo inconsciente (memórias, sentimentos e outros conteúdos mentais que se encontram além de nossa metacognição), sem que tenhamos qualquer pista a respeito desse enorme iceberg para baixo d’água que constitui a nossa totalidade. Outro exemplo básico para ilustrar tais limitações seria a nossa respiração. Temos consciência de que respiramos. Todavia, quantas vezes em nossa vida nós paramos para prestar a atenção em nossa respiração? A respiração constitui uma propriedade primal do funcionamento do nosso corpo desde que nascemos e se encontra disponível para a percepção dentro do espectro de nossos sentidos físicos. E mesmo assim, não estamos atentos a ele na esmagadora maioria do tempo. O mesmo poderia ser dito em relação às sensações de medo, frustração, ansiedade, impotência, culpa, trauma, rejeição, carência, baixa-autoestima e uma série de outros aspectos mentais que guiam o nosso comportamento e, mesmo assim, não temos a menor consciência disso.

Desta maneira, precisamos considerar que é nosso dever ampliar o horizonte de percepções para muito além da trilha da sobrevivência, posto que tal negligência amputa uma enorme parte daquilo que nós somos em uma época em que os animais, as intempéries e a falta de recursos do período em que éramos nômades nas savanas já não representam mais um perigo para a continuidade de nossa espécie. O perigo agora se encontra na supremacia do paradigma materialista, o qual é amplamente considerado como plenamente capaz de explicar a realidade, ao mesmo tempo em que vemos o quanto que isso está em conflito com um mundo a caminho do colapso.

Urge o tempo de reconhecimento de nossas próprias sombras como forma de jogar uma luz em nosso comportamento competitivo, agressivo, beligerante, infantil e egocêntrico, levando o planeta para uma escassez de recursos naturais justamente pelo capricho de uma espécie com uma visão predatória do meio ambiente e de si própria para adquirir recursos artificiais que tragam algum sentido para as suas vidas. Ao aceitar toda essa limitação, canibalizamos uma enorme fatia de nossa experiência negando o nosso universo subjetivo, o qual influencia diretamente o nosso comportamento esquizofrênico e suicida. E por causa deste gigantesco ponto cego, a culpa é sempre do vizinho, do colega de trabalho, do parceiro, da amante, da sogra, do rival e do governo. O mau está sempre fora e nunca dentro de nós, porque somos incapazes de reconhecer a nossa própria natureza de Gandhi e de Hitler e assim identificamos facilmente esses extremos no mundo ao apontar o nosso dedo para os outros. E ao Eu Natural se manifestando de forma completamente inconsciente em nossa vida nós demos o nome de destino, este último sempre direcionando as coisas para um resultado que não queremos.

A busca do verdadeiro sentido da vida passa necessariamente pelo reconhecimento de que o Eu Natural é completamente ignorado pelo Eu Adaptado, de que o universo é de natureza fundamentalmente mental e de que a consciência é geradora do cérebro e não o contrário, sobrevivendo à morte do corpo físico ao se reintegrar com a consciência cósmica. E que o fato de estarmos aqui e agora é para honrar o valor dessa rica experiência, a qual servirá de subsídio para a evolução do próprio universo.

Que 2022 possa ser um ano com muito mais consciência daquilo que somos, com todos os enormes desafios que essa resolução traz no reboque, pois somente assim nós teremos condições de zelar verdadeiramente pela nossa vida e pelo nosso cansado planeta azul.


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